
Com o endividamento das famílias brasileiras alcançando 78,2% em maio de 2025, conforme a PEIC (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), surge um alerta sobre a proliferação do parcelamento via Pix como nova via para comprometer o orçamento doméstico.
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Embora o parcelamento possa parecer uma alternativa prática para quem precisa equilibrar as finanças, especialistas recomendam cautela. O professor Alisson Batista, do curso de Ciências Contábeis da Estácio, destaca que qualquer forma de parcelamento, inclusive via Pix, exige atenção para evitar que a dívida se transforme em armadilha financeira.
“Avaliar se as receitas serão suficientes para liquidar todas as pendências financeiras é essencial. Caso se possua o recurso para pagamento à vista, é interessante pleitear um desconto”, diz o professor Alisson Batista.
Batista frisa que os cuidados são semelhantes aos de compras com cartão de crédito ou crediário. “Caso a pessoa não tenha certeza de que o recurso ficará disponível para pagar o Pix parcelado, ela não deve contratar. Os riscos são os mesmos de ficar inadimplente com o cartão de crédito ou cheque especial, podendo incorrer em juros altos e outras restrições financeiras”, reforça.
Franz Petrucelli, professor de Administração da Wyden, também recomenda cautela para quem deseja utilizar a modalidade. Segundo o professor, a falsa percepção pode levar a uma série de problemas financeiros, pois o serviço de parcelamento via Pix não é gratuito e funciona de forma semelhante a um empréstimo pessoal ou um financiamento.
“O principal risco para quem acredita que o Pix parcelado não cobra juros é o endividamento. As empresas que oferecem essa modalidade de pagamento, como as fintechs, atuam como intermediárias. Elas pagam o valor total da sua compra ao lojista, e você, em troca, se compromete
a pagar as parcelas para essa empresa. E é nesse processo que os juros e taxas são aplicados. O endividamento ocorre quando você assume dívidas que não consegue mais pagar”, diz o contador e mestre em administração.
Dados que reforçam o cenário
- Segundo a PEIC, 78,2% das famílias brasileiras estavam endividadas em maio de 2025, contra 77,6% em abril;
- A mesma pesquisa aponta que o percentual de famílias com dívidas em atraso subiu para 29,5% em maio, e em abril era 29,1%;
- O comprometimento da renda também preocupa: embora em alguns casos tenha havido leve melhora, ainda há famílias que destinam mais da metade dos rendimentos para pagar dívidas;
- O número médio de brasileiros com nome negativado ultrapassou 70 milhões em 2025, equivalente a cerca de 42% da população adulta. Para parte desses, o custo do crédito (juros, multas) torna o pagamento mínimo difícil.
Riscos do parcelamento via Pix para famílias endividadas, segundo Franz Petrucelli:
- O Pix parcelado pode criar ilusões de liquidez: embora facilite o acesso imediato à compra, se não for planejado, pode gerar parcelas futuras que a renda não suporta;
- O parcelamento pode trazer encargos e juros implícitos ou explícitos, multas em caso de atraso, além de possíveis impactos no nome do consumidor;
- A frequência de parcelas pode levar ao acúmulo de dívidas de curto prazo que exigem desembolsos frequentes, reduzindo a capacidade de poupança e aumentando a vulnerabilidade em contextos de despesa inesperada ou queda de renda;
Para quem usa o Pix parcelado sem entender a cobrança de juros, o risco é maior por vários motivos:
- Falta de planejamento: a pessoa pode fazer compras por impulso, sem calcular o valor total que será pago. Acreditando que não há juros, ela pode assumir várias parcelas ao mesmo tempo, comprometendo uma grande parte da sua renda mensal;
- Juros altos: os juros do Pix parcelado podem ser mais altos do que os do cartão de crédito ou outras modalidades de financiamento. Se a pessoa não comparar as taxas e não ler o contrato, pode acabar pagando muito mais do que o valor original da compra, tornando a dívida difícil de ser quitada;
- Atraso no pagamento: Se o pagamento de uma das parcelas atrasar, as empresas podem cobrar multas e juros adicionais. Esses valores se acumulam rapidamente, aumentando a dívida de forma exponencial e dificultando ainda mais o pagamento;
- Dificuldade em visualizar a dívida: O formato “pague em 3x com Pix” pode dar a impressão de ser uma transação simples. No entanto, o valor total da dívida pode ser muito maior do que o inicialmente imaginado, levando a pessoa a se surpreender com o montante final e a ter dificuldades para arcar com as parcelas.
Dicas do professor Alisson para quem considera usar Pix parcelado:
- Verificar se toda a renda mensal será capaz não só de pagar as parcelas, mas também de manter os compromissos básicos (moradia, alimentação, etc.);
- Conferir as datas de débito parcelado para evitar cruzamentos de vencimentos ou sobrecarga em um único período do mês;
- Sempre que possível, tentar negociação para pagamento à vista com desconto, em vez de parcelar;
- Comparar o custo total do parcelamento com outras formas de crédito, pois às vezes um carnê, uma compra à vista com desconto ou outra modalidade pode sair mais barato;
- Evitar o parcelamento caso não haja certeza de recursos suficientes, pois os riscos se assemelham aos do cartão de crédito ou do cheque especial.