
A Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), que começa nesta semana em Nova York, será o primeiro grande palco internacional em que os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump poderão estar frente a frente desde que assumiram os mandatos. Ainda não há confirmação de reunião bilateral, mas a simples possibilidade de um encontro ocorre em meio à escalada de atritos diplomáticos e comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
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Desde julho, as relações se deterioraram após Trump classificar como “caça às bruxas” o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal). Poucos dias depois, Washington anunciou sobretaxa de 50% sobre importações brasileiras, medida considerada “chantagem inaceitável” por Lula, que reagiu regulamentando a chamada Lei de Reciprocidade.

Em entrevista, Lula disse não ter “problema pessoal” com Trump e afirmou que, caso o encontre nos corredores da ONU, irá cumprimentá-lo:
“Eu sou um cidadão civilizado. Eu converso com todo mundo, eu estendo a mão para todo mundo”.
Nos bastidores, diplomatas reconhecem que há possibilidade de os líderes se cruzarem nas antessalas antes ou depois dos discursos de abertura, o Brasil, por tradição, é o primeiro a falar na plenária. Mas especialistas avaliam que qualquer gesto será meramente protocolar.
Escalada em três meses
- 9 de julho – Trump anuncia sobretaxa de 50% sobre importações brasileiras.
- 10 de julho – Lula promete retaliação e regulamenta a Lei de Reciprocidade.
- 1º de agosto – Tarifas americanas entram em vigor.
- 11 de setembro – Bolsonaro é condenado a 27 anos de prisão pelo STF; Trump critica decisão e impõe restrições de visto a ministros da Corte; Lula reage com artigo no The New York Times, defendendo a democracia brasileira e criticando tarifas “ilógicas”.
Expectativas na ONU

Para Paulo Velasco, professor de política internacional da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), é improvável que haja espaço para diálogo real:
“O Brasil está defendendo sua soberania e repelindo ingerência externa, enquanto o governo Trump acredita estar correto ao chamar o julgamento de ‘caça às bruxas’.”
Já Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo), considera que qualquer contato será apenas formal:
“Eles estarão na sala de espera antes de subir ao pódio e podem nem sequer se falar. O máximo que se poderá observar são sinais sutis, como a linguagem corporal ou um cumprimento rápido.”
Nos discursos, analistas esperam que Lula enfatize soberania, livre comércio e defesa das instituições democráticas, enquanto Trump deve mirar sua base interna, atacando o “radicalismo da esquerda” e reforçando sua agenda nacionalista.