em 19/09/2025 às 12:06 - Atualizado há 2 minutos atrás.
O governo do Afeganistão, controlado pelo Talebã, proibiu a utilização de livros escritos por mulheres no ensino universitário do país. A medida integra um novo decreto que também veta o ensino de 18 disciplinas, entre elas direitos humanos e assédio sexual.
De acordo com documentos obtidos pela BBC, cerca de 680 livros foram considerados “preocupantes” por supostas políticas “anti-Sharia” e “anti-Talebã”. Entre eles, estão 140 títulos escritos por mulheres, como Segurança no Laboratório Químico. A lista enviada às universidades inclui ainda 310 obras iranianas, de autores ou editoras, sob a justificativa de “evitar infiltração de conteúdo iraniano” no currículo acadêmico.
O decreto foi emitido no fim de agosto por um painel de “estudiosos e especialistas religiosos” ligado ao Ministério do Ensino Superior. Em carta, o vice-diretor acadêmico da pasta, Ziaur Rahman Aryubi, oficializou a decisão às universidades.
Seis das disciplinas proibidas estão diretamente relacionadas às mulheres, como gênero e desenvolvimento, papel das mulheres na comunicação e sociologia das mulheres. Professores alertam que a decisão criará um “vazio na educação”, já que muitas dessas obras eram referências no ensino superior.
Ex-autora censurada, a ex-vice-ministra da Justiça Zakia Adeli afirmou que não se surpreende com a medida:
“Dada a mentalidade e as políticas misóginas do Talebã, é natural que, quando as próprias mulheres não têm permissão para estudar, suas opiniões, ideias e escritos também sejam suprimidos.”
A decisão soma-se a uma série de restrições impostas pelo Talebã desde o retorno ao poder em 2021. Atualmente, meninas não têm acesso à educação após a sexta série, e cursos de obstetrícia, uma das últimas alternativas de formação para mulheres, foram encerrados em 2024.
Além da censura acadêmica, o governo proibiu recentemente o uso de internet de fibra óptica em ao menos dez províncias, medida que, segundo as autoridades, visa “evitar a imoralidade”.